TERMÔMETRO DA COP30 #DIA 9: os avanços da cúpula, os seus pacotes políticos e uma brisa de esperança
TERMÔMETRO DA COP30 #DIA 9
Olá, aqui quem escreve é Roberto Peixoto, repórter de Meio Ambiente no g1. Este é o Termômetro da COP30, edição #DIA 9, um boletim com o essencial que você precisa saber sobre a 30ª Conferência do Clima da ONU.
Eu vou explicar para você, em 7 tópicos, como foi a segunda-feira em Belém. Entre os destaques, eu conto que os países aceitaram avançar com os dois pacotes políticos da presidência e que isso abre caminho para o primeiro rascunho de texto que tenta amarrar os nós da conferência.
Vou falar também por que o novo relatório global sobre metano virou uma rara boa notícia no meio de tantas disputas e o que isso significa para a ambição desta década. E ainda explico como a discussão sobre pontos de não retorno voltou ao centro da COP30.
1 - Em alta X em baixa
EM ALTA: 📦 A COP30 começou a semana com um movimento que animou as delegações: os países aceitaram seguir adiante com os dois pacotes políticos coordenados pela presidência. Os quatro temas que estavam fora da agenda formal tiveram avanço suficiente nas consultas para que um primeiro rascunho seja apresentado. Segundo a CEO da COP, Ana Toni, foi inédito ver países pedindo esse texto mesmo ainda divergindo. Para observadores, esse gesto indica também disposição política para transformar as pendências da primeira semana em propostas concretas.
“O anúncio do pacote político a ser negociado, chamado de ‘mutirão’, nos traz esperança. O plano de resposta global à lacuna de ambição e os ‘mapas do caminho’ para proteção das florestas e para eliminação gradual dos combustíveis fósseis estão na mesa após muitos países demonstrarem apoio na semana passada, dentro e fora das salas de negociação", afirma Anna Cárcamo, especialista em política climática do Greenpeace Brasil.
EM BAIXA: 🗣️ O chanceler alemão, Friedrich Merz, afirmou em um discurso em Berlim que jornalistas que o acompanharam à Pré-COP30 teriam ficado “contentes por voltar” de Belém. Merz falava a empresários e exaltava as belezas da Alemanha quando contou a conversa com a comitiva. O governo brasileiro e a direção da COP não se manifestaram. O prefeito de Belém, Igor Normando, e o governador do Pará, Hélder Barbalho, disseram que a fala foi infeliz, arrogante e preconceituosa.
"Perguntei a alguns jornalistas que estiveram comigo no Brasil na semana passada: 'Quem de vocês gostaria de ficar aqui?' Ninguém levantou a mão. Todos ficaram contentes por termos retornado à Alemanha, a noite de sexta para sábado, especialmente daquele lugar onde estávamos", afirmou Merz.
2 - Brisa de esperança: metano dá um respiro raro
Uma boa notícia apareceu nesta segunda à margem da COP30. Um novo balanço global sobre metano lembrou algo simples, mas poderoso: quando países começam a agir, mesmo que devagar, o clima responde.
O relatório mostra que o metano ainda cresce, mas as projeções para os próximos anos estão caindo. Isso só aconteceu porque países adotaram novas leis, apertaram regras para setores como energia e lixo e modernizaram processos que antes eram tratados como parte inevitável do problema.
Pequenas mudanças, encontrar e consertar vazamentos, fechar poços abandonados, melhorar o manejo de resíduos, já trazem resultados concretos.
Oferta de energia cresce mais que consumo, e Brasil 'joga fora' excesso; entenda
E por que isso importa? Porque, apesar de o CO2 continuar sendo o grande vilão do clima (é responsável por cerca de 75% do aquecimento recente e alcançou níveis inéditos em 800 mil anos), o metano funciona como uma “alavanca rápida”.
Reduzir CO2 é indispensável para o longo prazo, mas cortar metano dá efeito imediato: ajuda a frear o aquecimento nesta década, diminui extremos climáticos e cria espaço para políticas estruturais funcionarem.
O relatório do UNEP (o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) reforça justamente isso. As soluções para o metano já existem, são baratas e têm impacto acelerado. Em uma COP cheia de disputas lentas, esse é um dos raros temas em que o planeta pode avançar rápido se decidir escalar o que já funciona.
3 - Traduz aí, g1
Gado na Amazônia após fogo na floresta.
Bruno Kelly/Reuters
O QUE SÃO OS PONTOS DE NÃO RETORNO? Na ciência do clima, existe um momento em que um ecossistema deixa de reagir como sempre reagiu. Ele até aguenta pressão por um tempo, mas chega a um limite em que a mudança vira permanente. Esse limite é o ponto de não retorno.
Para você ter ideia, a Amazônia é um dos casos que mais preocupam os cientistas. O cientista Carlos Nobre, que inclusive está na COP, alerta que partes do bioma já estão muito próximas desse ponto.
O combo de calor mais intenso, secas prolongadas, desmatamento e queimadas enfraquece a capacidade de a floresta se regenerar. Quando isso acontece, ela começa a se transformar em áreas mais abertas e muito mais pobres em biodiversidade (Entenda mais no item 7).
E a Amazônia não está sozinha. A ciência já identifica outros possíveis pontos de não retorno espalhados pelo planeta, como o colapso dos recifes de corais, o derretimento acelerado da Groenlândia e da Antártida Ocidental, o degelo do permafrost e o declínio das florestas boreais no Hemisfério Horte.
O mais preocupante é que esses processos podem se reforçar mutuamente. Mais degelo libera mais gases, o aquecimento sobe e outros ecossistemas ficam ainda mais pressionados.
Entenda o que são os 'permafrost' e por que são uma ameaça à saúde humana
4 - Pergunta do dia: quais já são os avanços da COP30?
A essa altura da conferência, dá para começar a separar o que realmente andou do que ainda segue travado.
O gráfico abaixo ajuda a visualizar bem esse movimento: ao longo da primeira semana, a área verde (os itens já acordados) saiu praticamente do zero e chegou a 44 pontos fechados até segunda. É um sinal de que a parte técnica conseguiu avançar.
Mas esse é só um pedaço da história. O gráfico mostra também que a maior parte da agenda segue em aberto: são cerca de 60 pontos que ainda precisam de negociação. E é justamente nisso que essa segunda semana se concentra: transformar a lista de pendências em decisões políticas, especialmente agora com ministros assumindo a mesa de negociação.
O que já dá para dizer, na avaliação de observadores, é que o processo parece mais organizado do que muita gente esperava. A primeira semana ajudou os países a entenderem melhor as posições uns dos outros, e isso criou um ambiente mais favorável para tentar fechar os temas mais duros.
Especialistas que acompanham as negociações também apontam que há sinais claros de disposição em avançar em questões estruturais.
Como funcionam as negociações na COP
Outro avanço é que florestas e combustíveis fósseis passaram a ocupar um espaço mais central na discussão política. Depois da Cúpula de Líderes e do lançamento do Fundo Florestas Tropicais para Sempre, cresceu a pressão para que a COP entregue roteiros consistentes para acabar com o desmatamento e acelerar a transição para longe dos fósseis, algo que, em conferências anteriores, muitas vezes ficava disperso.
Quer mandar uma pergunta pro TERMÔMETRO? Envie pelo VC no g1 ou nos comentários desta reportagem
Os próximos dias serão decisivos. Entre terça e quinta devem circular novas versões de texto, que vão mostrar até onde esses primeiros avanços conseguem se transformar em consenso. E, como sempre, muita coisa tende a ser decidida só perto da sexta-feira, no fechamento oficial da COP.
5 - Fóssil do Dia
Ativistas entregam simbolicamente o “Fóssil do Dia” à Nova Zelândia por reduzir sua meta de corte de metano.
Climate Action Network
Depois da Indonésia no sábado, quem levou o Fóssil do Dia nesta segunda-feira foi a Nova Zelândia. O motivo: o país afrouxou sua meta de metano justamente no momento em que ministros estão reunidos em Belém para discutir o Global Methane Pledge.
Qual gás do efeito estufa é o maior vilão do clima?
O recuo pegou mal. A Nova Zelândia reduziu sua ambição de corte de metano de 24–47% para 14–24%, uma faixa tão fraca que o próprio ministro do Clima do país admitiu que o limite inferior “não está alinhado com 1,5°C”.
E isso pesa ainda mais porque o metano é o calcanhar de Aquiles da Nova Zelândia: responde por quase metade das emissões nacionais e vem principalmente do setor agropecuário.
No centro da polêmica está a ideia de que o metano “biogênico”, aquele do gado, deveria ser tratado de um jeito diferente por durar menos tempo na atmosfera. A comunidade científica rebate: o efeito de aquecimento é forte e imediato, e é justamente por isso que cortar metano é uma das formas mais rápidas de frear o aquecimento.
Para organizações da sociedade civil, o recado da Nova Zelândia é perigoso: abre espaço para que outros países de alta emissão de metano façam o mesmo. A Irlanda inclusive já estuda seguir o caminho.
🦖 O "Fóssil do dia" é um "prêmio" simbólico e irônico, concedido uma vez por dia durante as conferências climáticas da ONU.
6 - Você precisa ouvir
Se você quer entender por que o “mapa do caminho” para sair dos combustíveis fósseis virou um dos temas mais comentados nos bastidores da COP30, vale dar play no episódio de hoje de O Assunto.
🗺️ 🛣️ ENTENDA O TERMO: “Mapa do caminho” ou roadmap (em inglês) é o termo usado em negociações internacionais para designar planos de ação que estabelecem etapas, prazos e metas concretas rumo a um objetivo comum. Na prática, trata-se de um roteiro político e técnico que define “quem faz o quê, até quando e com quais recursos”.
Direto de Belém, a repórter Poliana Casemiro explica como o Brasil costurou essa proposta paralela, por que ela tem sido bem recebida por parte das delegações e quais são os pontos mais sensíveis dessa negociação.
Na segunda parte do programa, o climatologista Paulo Artaxo analisa o peso político e científico desse mapa. Ele explica como o plano pode influenciar o desfecho da conferência e o que realmente precisa estar no texto final para que a COP30 seja lembrada como um avanço na transição energética.
Um episódio essencial para quem quer acompanhar essa semana decisiva com o contexto certo.
Você pode ouvir O Assunto quando e onde quiser; veja aqui
7 - Além da imagem
Johan Rockström e Carlos Nobre durante o segmento de alto nível da COP30, em Belém.
Adriano Machado/Reuters.
MAIS DO QUE UMA FOTO: Na segunda, os cientistas Carlos Nobre e Johan Rockström foram os porta-vozes de um alerta que ecoou pelos corredores da COP30. Depois da plenária do dia, Nobre entregou ao vice-presidente Geraldo Alckmin uma carta assinada por cientistas, ativistas, povos indígenas e lideranças de vários países pedindo um roteiro claro para eliminar gradualmente os combustíveis fósseis.
Nobre afirmou que o documento também seria levado “a todos os delegados” da cúpula, num movimento para reforçar que a Amazônia, os recifes de corais e outros biomas já mostram sinais de estresse extremo.
"Alcançar emissões líquidas zero globais exige uma mudança radical de mentalidade e governança em todos os países, bem como, sobretudo, a expansão da energia renovável, a eliminação gradual de todos os combustíveis fósseis e o fim do desmatamento", diz a carta.
Saiba mais aqui como foi a entrega da carta dos cientistas
Amanhã, acompanhe mais um TERMÔMETRO DA COP30.
Até lá!
LEIA TAMBÉM:
Preços de hospedagem caem quase 50% em Belém às vésperas da COP 30, aponta Airbnb
Cúpula de Belém surpreende ao trazer de volta o petróleo para o foco das negociações da COP
Tornado, ciclone, furacão: entenda as diferenças entre os fenômenos meteorológicosFONTE: https://g1.globo.com/meio-ambiente/cop-30/noticia/2025/11/18/termometro-da-cop30-dia-9-os-avancos-da-cupula-os-seus-pacotes-politicos-e-uma-brisa-de-esperanca.ghtml