Por unanimidade, Câmara aprova o título de Patrimônio Cultural Imaterial de Belém ao Festival Psica
04/12/2025
(Foto: Reprodução) Festival Psica
Divulgação
O Festival Psica deu um passo histórico rumo ao reconhecimento oficial de sua importância para a cultura amazônica. A Câmara Municipal de Belém aprovou por unanimidade, na quarta-feira (3), o projeto de lei que declara o festival como Patrimônio Cultural Imaterial do Município. Após a aprovação no Legislativo, a proposta segue agora para sanção do prefeito Igor Normando.
Para a vereadora Marinor Brito (PSOL), autora do projeto, o projeto é um gesto de valorização da cultura que emerge das feiras, das periferias e da criatividade amazônica. Segundo a vereadora, o Psica sintetiza uma geração que ressignifica a cidade a partir das margens.
“O Psica nasce da feira, da periferia, da criatividade amazônica, que nunca precisou de aval do centro para existir. É fruto da juventude preta, indígena, periférica, LGBTQIAPN+, que transformou o improviso em política cultural de alcance internacional. Hoje reconhecemos um festival decolonial na essência, que coloca a Amazônia no centro, gera trabalho, movimenta a economia criativa e afirma nossas identidades”, afirma.
Ela reforça que o Psica se tornou referência nacional em inclusão, acessibilidade e sustentabilidade. “É um espaço onde pessoas trans, pessoas com deficiência, mulheres, negras e indígenas são protagonistas. Celebramos não apenas um festival, mas um movimento cultural que combate desigualdades, produz pertencimento e mostra que a cultura amazônica é patrimônio do Brasil e do mundo.”
A parlamentar destaca que o festival consolidou um espaço de protagonismo para corpos e vozes historicamente silenciadas. “Ao aprovarmos esse reconhecimento, afirmamos que Belém e o Pará valorizam sua cultura viva, diversa e insurgente. Celebramos não apenas um festival, mas um movimento cultural que combate desigualdades e produz pertencimento.”
Jeft e Gerson Dias, diretores do Festival Psica, no palco do Prêmio Sim à Igualdade Racial 2025
Divulgação/SIM
Trajetória que nasce na Cidade Nova
O festival carrega a trajetória dos irmãos Jeft Dias e Gerson Júnior, considerados hoje dois dos mais importantes produtores culturais periféricos do Brasil. Em 2023, ambos foram incluídos na PowerList 100, lista que reconhece as personalidades negras lusófonas mais influentes do ano, reunindo nomes de países como Angola, Cabo Verde, Moçambique, Portugal e Brasil.
Antes de se tornarem referência nacional, Jeft e Gerson cresceram na feira da Cidade Nova 4, onde ajudavam o pai a vender CDs e DVDs. Foi ali que, ainda crianças, conheceram um universo sonoro que misturava rock, brega, música amazônica e influências globais — repertório que moldou o imaginário criativo dos futuros diretores do Psica.
“Nosso pai vendia CDs na feira e foi nossa primeira referência de ousadia musical. Aquele ambiente cheio de sons e cores nos levou por esse caminho”, lembra Jeft.
Gerson complementa: “A feira foi nossa formação. Ela nos mostrou que a música periférica é complexa, potente e diversa. Tudo isso se transformou no que hoje é o Psica.”
Esse ambiente plural foi a semente do festival, que começou de forma totalmente independente, como um evento underground, até se tornar o maior festival do Norte do Brasil e uma das principais plataformas de cultura periférica do país.
Impacto econômico e criatividade amazônica
Criado em 2012, o Psica cresceu a ponto de se tornar um dos eixos da economia criativa amazônica. Em 2024, reuniu mais de 100 mil pessoas em três noites, integrando a Cidade Velha ao Estádio Mangueirão e ampliando o impacto para toda a região metropolitana.
Hoje, o evento gera cerca de 800 empregos diretos e aproximadamente 2 mil indiretos, envolvendo áreas como gastronomia, audiovisual, design, moda, comunicação e micronegócios periféricos. As feiras internas também ajudam a dimensionar esse impacto: em 2024, a feira gastronômica Mediciland reuniu 13 empreendedores, com faturamento estimado em R$ 360 mil, enquanto a feira criativa Venda Seu Peixe registrou receita aproximada de R$ 18 mil. Somadas, movimentaram cerca de R$ 380 mil.
“O Psica injeta dinheiro onde antes não circulava. Ele fortalece quem trabalha nas periferias e amplia oportunidades reais de renda”, afirma Jeft Dias.
Inclusão e diversidade
Em 2024, o Psica foi o festival brasileiro que mais destinou ingressos a pessoas trans, travestis e não binárias, com 1.078 ingressos distribuídos. O evento também mantém equipes majoritariamente LGBTQIAPN+ (55%) e compostas por 56% de pessoas pretas ou indígenas, articulando inclusão tanto no acesso quanto nos bastidores.
A parceria com a Rede Paraense de Pessoas Trans fortalece a produção com presença queer em todas as etapas. Em 2024, o Instituto Psica registrou 280 atendimentos a pessoas com deficiência, 205 acompanhantes, mais de 40 profissionais especializados em acessibilidade, Libras em todos os palcos e salas de descompressão para pessoas neurodivergentes.
“A diversidade é nosso ponto de partida. Trabalhamos para garantir acesso, acolhimento e segurança em todas as etapas da experiência”, afirma Gerson Júnior.
Sustentabilidade e cuidado com a Amazônia
Em 2024, foram recolhidos 2.140 kg de resíduos recicláveis e distribuídas mais de 3.600 bituqueiras. A praça de alimentação passou a contar com cardápios veganos e de baixa emissão de CO₂, e o festival iniciou a elaboração de inventário de carbono. O trabalho se articula à Casa Dourada, sede do Instituto Psica, que mantém agenda permanente de debates sobre clima e economia criativa.
Psica 2025
Em 2025, o Psica retorna com o tema “O Retorno da Dourada”, ampliando suas políticas de inclusão, sustentabilidade e projeção da cultura amazônica. A edição contará com mais de 70 atrações, entre elas Dona Onete, Martinho da Vila, Marina Sena, Jorge Aragão, Viviane Batidão e artistas emergentes da Pan-Amazônia.
Serviço
Festival Psica 2025 – O Retorno da Dourada
Onde: Cidade Velha e Estádio Mangueirão, Belém (PA)
Quando: 12, 13 e 14 de dezembro de 2025
Ingressos: Passaportes a partir de R$ 125 (meia), disponíveis na plataforma Ingresse
Gratuidade: Lista TransFree e pessoas com deficiência
Redes sociais: @festivalpsica
Site oficial: festivalpsica.com.br
Patrocínio master: Petrobras, via Lei de Incentivo à Cultura Rouanet
VÍDEOS: veja todas as notícias do Pará